VIAGEM PELO AMOR...Beijinho lindo...Era uma longa, fria e triste noite de Março...
Susana sentia-se só, aquele pequeno ser que gerara alguns anos atrás, permanecia adormecida no leito atrás de si.
Havia muitos anos já que Susana se sentia assim só, apesar de ter alguém a seu lado, incapaz de preencher os recantos secretos da sua alma.
Os interesses eram diferentes, enquanto Susana ansiava por amor, ternura, compreensão, companheirismo e partilha, aquele que escolhera para partilhar a sua vida, dividia-a entre ela, a filha, o álcool e as ganzas.
Susana vivia um estado de torpor, entre o reconhecimento de que não era feliz e a falta de coragem de por um fim áquela vida semi-miserável.
A filha, ao fim de alguns anos de agonia, aceitou finalmente que aquela não era vida para ambas.
Era o estímulo que lhe faltava, Susana ganhou coragem e fugiu, abandonou a vida que não queria para elas.
Nessa noite fria de Março, Susana navegava pele Net, procurando amizades, alguém com quem conversar. Já tinha conseguido algumas com quem conversava com regularidade, mas nessa noite não tinha ninguém.
Vagueia por uma sala do aeiou, quando um simples "h" surge, vindo do nada.
Tinham bastante em comum, a mesma profissão, e foi por aí que foram desenvolvendo a conversa.
Dia após dia, a amizade foi-se consolidando.
"h" achava que devia dar uma oportunidade ao marido, Susana dáva-lhe as suas razões. Conversavam sobre tudo um pouco, até das suas crenças religiosas, que aparentemente não eram comuns.
Falaram durante muito tempo, Susana carente, ía-se envolvendo lentamente.
Um dia olhou para dentro de si, e pensou como era possível, que alguém que considerava um bom amigo, lentamente tivesse tomado conta do seu coração.
Não sabia o que a vida lhe reservava, mas não ía ficar no torpor da dúvida, da falta de luta. A vida até aquele momento havia sido madrasta com ela e Susana iria lutar até onde lhe fosse possível.
Susana só não sabia que um dia lhe iria faltar a coragem...
Entre troca de ideias, e esta tomada de consciência Susana encontrou-se com o objecto do seu amor, num lindo dia Maio em Fátima.
Foi um dia mágico, Susana jamais o esquecerá.
O encontro de ambos, foi lindo. Conheceram-se e pareciam dois adolescentes, no auge de um grande amor, as suas mãos procuravam-se, entrelaçavam-se ávidas do calor uma da outra.
Percorreram o Santuário, rezaram ajoelhados no mesmo banco.
Susana pedia auxílio para os momentos difíceis que se avizinhavam para ela, e pedia também que fosse feliz finalmente, que aquele ajoelhado ali a seu lado rezando, também a amasse da mesma forma.
Quanta ilusão Susana!...
Talvez naquele momento a Senhora te devesse ter dado um sinal, para que percebesses, que afinal aquele não era o homem da tua vida, não era a sua "Alma Gémea".
Era só o "h", um bom amigo mesmo, quantos disparates teria deixado de cometer, ou talvez não...
Entre troca de carinhos, beijos e uma tarde de paixão, Susana soube que o amava.
Não foi capaz de concretizar o acto supremo do amor, mas soube que aquele era o seu amor.
Á noite, já cada um no seu canto, "h" dizia-lhe que tinham feito bem em travar o desejo que tinham sentido e Susana sentiu-se feliz...
O tempo foi passando, aquele amor intensificado, pensava Susana.
Um dia rumou em direcção a Lisboa, e ao seu amor.
Ía em trabalho, mas sonhava com os momentos em que ía estar livre para aquele amor.
Susana não sabía, mas afinal o amor era e continuava a ser só seu.
"h" foi atencioso, mas também um pouco frio, muito aquém do que Susana sonhara, aqueles dois dias que sonhara inolvidáveis, afinal não o foram, antes sim uma desilusão, parcos e escassos foram os momentos que estiveram juntos.
Susana regressou á sua vida, com a sensação, que o seu sonho se esfumara.
Assim foi na realidade, "h" tornou-se frio e amistoso, meigo mas sem a paixão que antes o caracterizava.
Susana passou pelos momentos difíceis porque rezou em Fátima, com a angústia no coração, sabía agora que não ía ter coragem de lutar pelo seu amor.
A sensação de se sentir algo diferente das outras mulheres, tolhía-a, tirava-lhe a coragem de perguntar os porquês.
O porquê de tanta paixão numa tarde de Maio, o porquê da frieza depois, o porquê da indiferença de agora.
Susana não era capaz, perguntar implicava reconhecer que o amava, mas também que não era amada.
Hoje pergunta-se se alguma vez irá ter coragem, e sente que não.
Fora outrora, talvez 3 anos antes e Susana iría querer e lutar pelo seu amor, hoje não...afinal pouco tem para oferecer.
Susana continua o seu caminho e permanece só.