Alguém me disse que escrever, me fazia ficar diferente, mais calma, mais tranquila.
Será talvez da época que se aproxima, será...talvez não sei.
Vou contar os Natais de Maria, falou-me neles à dias e algo me tocou, neste relato.
Os avós maternos de Maria eram do Norte, eram porque já não estão entre nós,
mais própriamente de Viana do Castelo.
O avô era comediante, trabalhava de malabarista, acho eu, num circo, a avó acompanhava-o pelo país fora, com as filhas atraz.
Numa das suas passagens por Coimbra, levantou arraiais e foi-se sozinho abandonando a senhora com as quatro filhas nesta cidade, onde não conhecia ninguém.
A pobre senhora jurou para si própria que se fora esta a cidade a escolhida para a deixar seria nela que iria viver com as suas filhas.
Era determinada, trabalhou a dias para as senhoras da Alta Sociedade Coimbrã.
Lavou-lhes as roupas no rio Mondego usual na época da Segunda Guerra Mundial.
Foi mãe e pai daquelas meninas que não tinham pedido para vir ao mundo, mas que tinham de sobreviver.
Todas elas fizeram a primária até á 3ª classe porque não dava para mais, foram trabalhar cedo para as senhoras e mais tarde para fábricas de tecidos locais.
Casaram todas menos a mais nova que entretanto com 30 anos cegou.
Cãndida a mais velha teve duas filhas, Virgínia a do meio teve dois rapazes e Alice a mais nova, mãe de Maria teve 5 filhos, dois rapazes e três raparigas.
Maria recorda com carinho os Natais em casa da avó, onde se juntavam todos, avó ,filhas, genros, netos e netas.
Aquela senhora que se vira só com as suas 4 filhas, tinha agora a casa cheia.
Era uma algazarra imensa por aquela casa.
Ficavam até altas horas da noite, na conversa, e eram felizes, porque estavam juntos naquela noite especial.
Com o passar dos anos, por um motivo ou por outro, foram-se afastando, sobretudo porque o pai de Maria, que tinha um feitio bastante difícil deixou de querer ir. Não fora serem 4 filhos e aqueles natais seriam uma tristeza.
Ana teve duas filhas, Rui, um casal, Maria uma e Claudia não teve filhos, devido a uma doença de que padece, encontravam-se todos os anos pelo Natal em casa de Alice. A festa continuava.
Maria casara e passava um em casa dos pais e o seguinte em casa dos sogros, arranjava sempre tempo para passar em casa dos pais uma vez que os sogros íam cedo para a cama, e lá ficavam eles em amena cavaqueira nos comes e bebes até altas horas, estavam juntos e isso deixava-os felizes.
Não importava que as prendas não fossem muitas, havia para os pequenitos e isso bastava porque os deliciava, ver os petiz a abri-las.
Maria confidenciou-me que hoje o Natal não lhe diz nada, o marido não quer ir para lado nenhum, ficam os três em casa sós.
Disse-me que não há Natal agora, em que as lágrimas, não lhe saiam pelos olhos, quando se lembra dos Natais da sua meninice e nos pais em sua casa com os irmãos.
Perguntava-me no fim deste relato: Porque será que o Natal não é para todos ?
Vou estar contigo Maria, o meu pensamento vai estar contigo amiga.
Este vou fazer-te companhia a todas as horas com o meu pensamento.