7 - Já não é adolescente
O pai de Maria, continuava intransigente, não a deixava sair.
Tó Mané ía a sua casa e por lá namoravam á noite. Durante o dia, tirava todos os bocadinhos que podia para estar com ele. Vivia em função daquele amor e quase obcecada, por ele.
Tó Mané era egoísta, demonstrou-lho quando lhe disse que achava que os seus pais deviam deserdar a irmã Ana por ela ser mãe solteira, quando não se preocupava com o prazer de Maria e depois lhe atirava á cara de que era frígida, e em tantas outras ocasiões.
Maria hoje sabe, que não era verdade, mas na altura, vivia com aquele medo, aquela dor.
Nunca conhecera outro homem na intimidade e tomava como verdadeiras as suas palavras.
Julgava-se frígida efectivamente. Hoje sabe reconhecer os motivos que a levavam a não sentir prazer, mas na época vivia complexada.
Aos 4 anos de namoro, a mãe de Tó, acabou por aceitar, começou a achar que não havia nada a fazer, ou então mudou de estratégia, o que é certo é que passou a frequentar esporádicamente a casa.
Não se sentía lá bem, pelo que também não insistía em a frequentar assíduamente.
Tó entretanto cada vez frequentava menos a sua, e quando Maria o questionava por isso, desculpava-se com as Frequências e os Exames.
Maria sentía que algo não estava bem. Os colegas dele, ou para a avisarem, ou para a picarem, avisavam-na para ter cuidado com as miúdas. Quando o confontava com isso, dizia-lhe que era tola, que não havia ninguém, que podiam ir pensando no casamento e Maria ía sonhando.
Intímamente, sabia que havia algo de verdade no que os colegas dele lhe diziam, sentia-o no seu coração, e ele negava, negava, negava...
Voltando aos seus 18 anos, Maria achou que estava na altura de mudar a sua vida, começou a trabalhar em Part-Time numa loja de Antiguidades, fazia o período da manhã.
O emprego ficou a devê-lo a uma boa amiga que lá trabalhava, a Fátima Nunes, que na época adoeceu, Síndrome de Down, e que veio a falecer dois anos mais tarde, legando-lhe o seu lugar.
Maria aproveitou o emprego, e resolveu acabar o 10º e o 11º, num colégio, onde podia fazer os dois anos num. Foi dos maiores desafios que teve.
Recebia 5 contos, pagava o colégio, o passe e ficava com 5 escudos que costumava dizer eram para os rebuçados, com um sorriso nos lábios, porque era feliz contribuindo para o seu futuro. Longe íam os dias em que queria ser empregada doméstica.
A mãe continuava a dar-lhe dinheiro para as despesas correntes, mas ela sentía-se feliz.
Essa responsabilidade fez-lhe bem, porque conseguiu fazer os dois anos em um com todas as disciplinas.
Foi um ano duro, até porque entretanto, ficou a trabalhar a tempo inteiro na loja de Antiguidades.
Adorava o seu trabalho, dava-lhe um gozo enorme, lidar com todas aquelas velharias.
Cada dia aprendia algo de novo, sobre antiguidades.
A vida corria-lhe bem.