13/12/2005

O DIÁRIO DE MARIA

3 - Adolescência

Tinha 14 anos, continuava magricela, enfezada e feia, pelo menos era assim que se sentia. quando olhava para Ana e a via, bem formada, bem morena, cabelos e olhos negros, linda de morrer.
Enquanto Ana tomava atitudes de adolescente, olhava os rapazes como tal, Maria continuava infantil, lembra-se de descer a ladeira da Rainha Santa aos pulinhos á frente da irmã, enquanto esta barafustava com ela. Pedia-lhe para se comportar, porque lá em cima estavam os militares e parecia mal ela de saltos altos e mini-saia acompanhar uma miúda aos pulos atrás de si.
Maria sentia um prazer mórbido em a contrariar.
Chegou aos 14 anos da mesma forma como passou pelos 13, 12 e 11. Era infantil e gostava de ser assim, sentia-se bem na sua pele de menina, sem as frescuras da irmã.
Foi nesse estado de espírito que a sua vida levou uma reviravolta de 180º.
Ana apareceu grávida. O pai de sua filha, era um vizinho de 23 anos, que se recusou a assumir a paternidade da bébé. Foram momentos dolorosos e de angústia.
Ana abandonou a escola, rumou ao Entroncamento para casa da cunhada, com quem entretanto o irmão que andava na tropa se íria casar.
Os pais esses queriam poupá-la á vergonha de ser mãe solteira.
Pensaram ser o melhor para ela, retirá-la do ambiente promíscuo do falatório dos vizinhos. na época uma míuda engravidar sem ser do namorado, e ainda por cima o dito recusar a paternidade era algo de desvastador.
A mãe solteira era um estigma que ficava para sempre.
Maria sentiu-se só e abandonada, ficava sem a grande amiga e confidente, a mãe chorava a mágoa, o pai gritava por tudo e por nada, Maria ficava cada vez mais sozinha.
Lembra de ir para o liceu e passar intervalos e feriados inteiros, sozinha, sentada no chão, encostada aos muros da escola, completamente só, as lágrimas corriam-lhe pela cara abaixo enquanto lembrava os gritos do pai, o choro da irmã que partia. A revolta era imensa, não era justo.
Quando a vida finalmente lhes sorria, algo deitava tudo a perder.
A felicidade é efémera, tomava conciência disso.
Sentia falta da irmã, não tinha amigos, ninguém com quem conversar e desabafar as suas mágoas.
Alturas havia em que no liceu, ía para a casa de banho, trancava-se lá dentro enquanto durava o intervalo, tinha vergonha de a verem sempre só, era a sua defesa, a sua forma de se resguardar dos olhares maldosos dos colegas.
O tempo foi passando, a mágoa e a dor atenuando.

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