07/11/2005

O DIÁRIO DE MARIA

1 - Infância

Maria nasceu no seio de uma família pobre. Tinha três irmãos, dois rapazes os mais velhos, Rui e Francisco.
Maria era fruto de uma separação, seguida de reconciliação, por parte dos pais, não fora ela 15 meses mais nova que Ana.
Sempre se sentiu, como o fruto que não devia ter crescido naquela árvore, o patinho feio da família.
Maria foi criada, no mercado local, onde os pais tinham um talho de carneiro e porco. Lembra-se de ainda pequenina, a mãe a levantar da cama bem cedo, a levar ao colo, e lá chegadas, lhe fazer a cama em cima da salgadeira para que pudesse continuar o seu sono.
Filha de pai alcoólico, sempre admirou a mãe por ser, o leme firme daquele barco, prestes a afundar em qualquer momento.
As suas brincadeiras eram feitas com Ana, uma vez que o pai, de temperamento rígido e autoritário, não lhe dava espaço ou permitia brincadeiras com outros míudos da sua idade
Assim foi crescendo, entre correrias pelo mercado e brincadeiras com a irmã Ana que era a sua melhor amiga.
Maria entrou para a escola, para ela era um suplício, não gostava de lá andar, de espírito entre rebelde e meigo, foi andando, motivada e incentivada pela mãe, cujo sonho era ver os filhos formar-se na Universidade, facto que lhe tinha sido negado.
Maria não queria, dizia muitas vezes a sua mãe, que preferia ser criada de servir que estudar. A mãe pedia-lhe mais um ano, e ela com receio de a magoar, lá ía indo, ano após ano, uns com sucesso, outros com menos, já que nunca foi uma aluna brilhante, mas foi a única dos irmãos que conseguir entrar para o Ensino Superior, os outros foram ficando pelo caminho, por um motivo ou por outro.
Quando tinha cinco anos, o seu irmão Francisco, o segundo da prole, falecera.
Depois de uma ida ao Rio Mondego, que fazia frequentemente, com os amigos e irmão mais velho, atirou-se á água para ir buscar uma bola, resultando uma congestão e falecimento. A mãe isolou-se, Maria lembra-se de a ver chorar, quando se julgava só. A menina só conseguia dar-lhe beijos e fazer-lhe carinhos, palavras não tinha, afinal ainda era uma criança. O pai, esse tornou-se alcoólico inveterado, vivia para beber e bebia para viver.
Maria foi tomando consciencia, que na vida cada um vivia as suas mágoas, as suas dores de forma diferente, de uma forma muito própria e pessoal.
Uns choravam quando sós, mas arregaçavam os braços e lutavam porque afinal ainda tinham 3 filhos por quem lutar, outros afogavam-nas no alcóol, e enfernizavam a vida daqueles por quem deviam lutar, forma mais fácil de esquecer, afinal não se sentiam obrigados a mais nada. O mundo desabara, caira-lhe em cima, e como tal, enfiava a cabeça no buraco, permanecendo por lá.
Por essa altura, Maria nutria uma admiração por aquela mãe lutadora, quase próxima da adoração.

1 comentário:

Rui disse...

Gostei bastante. Está lindo. Que venha a continuação depressa.